20/06/2012 09:04
Infiltrações causaram desabamento em S. Bernardo
Laudo, obtido com exclusividade, constatou falhas na impermeabilização de laje do Edifício Senador Derla Cardoso/
do desabamento parcial que aconteceu no dia 6 de fevereiro e que matou duas pessoas. O BOM DIA teve acesso ao laudo da Falcão Bauer que analisou as causas do incidente. De acordo com a empresa, que foi contratada pela prefeitura de São Bernardo para dar parecer sobre o caso, as deficiências na impermeabilização geraram a deterioração da estrutura. Os técnicos constataram, segundo o documento, que em função da corrosão do último andar, o 14º, a laje caiu causando efeito dominó sobre os demais andares que vieram abaixo. A estrutura do prédio, que foi construída há cerca de 30 anos, tem vigas invertidas, o que também facilitou o acúmulo de água que ficou infiltrada internamente. O laudo também afirma que havia sobrepeso devido ao alteamento do piso original da penúltima laje do prédio. Essa informação já havia sido constatada pela perícia preliminar feita pela Polícia Civil e divulgada com exclusividade pelo BOM DIA, no entanto, segundo a Falcão Bauer, a carga não foi responsável pelo colapso inicial da estrutura. Não consta no documento informações sobre a possibilidade de reconstrução, reforma ou demolição do prédio. O delegado responsável pelo caso, Victor Vasconcellos Lutti, afirmou que não se pronunciaria até que o laudo oficial do Instituto de Criminalística ficasse pronto. Informou ainda que não há uma data específica para que isso aconteça devido a complexidade das análises. Negligência A Polícia estava trabalhando com a possibilidade de negligência. As investigações feitas até abril constataram que sobrepeso e escoramento de vigas nas duas últimas lajes poderiam fazer parte do conjunto de causas do acidente. Na perícia preliminar da Polícia Civil foi possível constatar que uma viga da última laje havia cedido e foi escorada de maneira provisória. Entretanto, o improviso teria acontecido há 10 anos. As investigações mostraram que por conta do sobrepeso, um lado da viga teria caído e por isso foi escorada com um consolo. Um macaco hidráulico teria sido usado para apoiar a viga. Quando o macaco passou a não alcançar restante do espaço iam sendo colocados 'calços', além de uma coluna de metal. Uma testemunha cujo nome está em sigilo prestou depoimento ontem no 1º DP (Distrito Policial) de São Bernardo e confirmou que o improviso foi feito. O prédio está totalmente lacrado pela prefeitura. Destruição Da cobertura até o andar térreo todos os andares com final quatro foram destruídos. O buraco causado pela queda das lajes tem cerca de 10 metros de diâmetro. Impermeabilização Dois dias após o acidente, o síndico do Edifício Senador, Lauro Salera, de 69 anos, confirmou que o prédio passou por reparos de impermeabilização há cerca de um ano. À espera O Crea–SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo) afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que só irá se pronunciar após a conclusão do laudo pericial. A entidade também instaurou processo ético e administrativo para tentar identificar os engenheiros que realizaram trabalhos no Edifício Senador. Rotina retomada após incidente Com dúvidas sobre reforma de prédio, condôminos trabalham em outros locais O desabamento das lajes do prédio causou a morte de Júlia Moraes, de 3 anos, e da enfermeira Patrícia Alves Farias de Lima, 26. Desde então segue totalmente lacrado pela prefeitura da cidade em decorrência dos riscos. Como a possibilidade de demolição do prédio ainda pode ser apresentada os trabalhadores mantêm rotina fora do edifício. Advogados, médicos e dentistas atuam em outros escritórios ou mesmo em casa para recuperar prejuízo causado pelo incidente. A advogada Luciana Pereira de Andrade, de 33 anos, que trabalhava no escritório do pai há cinco anos no prédio. Hoje, a família trabalha em outro prédio na região central. “Eu para lá não volto. No dia já tinha saído do trabalho, mas meu pai ainda estava lá. As lajes que caíram estavam do lado do nosso conjunto. Ele correu muito risco. Acho que não voltaria jamais nem com a melhor reforma do mundo”, contou. Logo após o desabamento, a Defesa Civil de São Bernardo lacrou o prédio e não foi possível ninguém retirar pertences pessoais. Somente momentos antes do lacre permanente da prefeitura alguns profissionais retiram objetos. Advogada afirma que não tem coragem de voltar a trabalhar no prédio. Na sua opinião, prédio deveria ser demolido e reconstruído com mais segurança. Condôminos ouvidos pelo BOM DIA após o desabamento disseram que não haviam indícios de que o edifício pudesse sofrer um desabamento. O acidente afetou as lajes dos catorze andares do Senador. Segundo eles, o prédio passava atualmente por um serviço de pintura.
